Introdução à Filosofia do Movimento Software Livre Adriano Rafael Gomes, adrianorg@arg.eti.br 10 de Abril de 2015, versão 1 %!encoding: UTF-8 %!target: html %!options: --toc + Resumo + Este documento apresenta uma breve introdução à filosofia do Movimento Software Livre. + Introdução + Quando participamos de um evento de Software Livre, geralmente vemos uma grande quantidade de palestras técnicas. Palestras técnicas são legais porque ensinam como usar os diversos programas livres que temos à disposição, e é importante saber usar os programas para podermos realizar bem as nossas tarefas. Mas a parte técnica do software, embora legal e importante, não é tudo: há também a parte filosófica, que trata da liberdade dos usuários em relação ao uso do software. Esta não é uma palestra técnica. Esta é uma palestra sobre a filosofia do Movimento Software Livre. O público alvo dessa palestra são tanto os novos usuários que estão começando a conhecer o Software Livre agora como também os usuários antigos que já conhecem a parte técnica mas que ainda não conhecem a parte filosófica. É importante que os usuários conheçam tanto a parte técnica, para usarem bem os programas, quanto a parte filosófica, para compreenderem o valor da Liberdade de Software. + Por onde começar? + Uma forma de conhecer o Software Livre é começar aprendendo a parte técnica primeiro e, eventualmente, depois de gostar dos programas, conhecer a sua filosofia. Essa forma é um pouco fraca, pois se você deixar para conhecer a filosofia por último, poderá abrir mão da liberdade no meio do caminho. Outra forma de conhecer o Software Livre é começar conhecendo a filosofia do Movimento Software Livre primeiro, para compreender a importância da Liberdade de Software desde cedo e, sobre essa base sólida, construir o seu conhecimento da parte técnica. Essa forma é mais forte, pois conhecendo a filosofia, dificilmente você abrirá mão da sua liberdade. Valorizar a filosofia do Movimento Software Livre é o que fará você permanecer firme na defesa da sua liberdade. + O que é Software Livre? + Software Livre é software que respeita a liberdade do usuário. O oposto de Software Livre é software não-Livre, que não respeita a liberdade do usuário. De acordo com alguns critérios que veremos adiante, é possível classificar o software como Livre ou não-Livre. + Por que existe o Movimento Software Livre? + O Movimento Software Livre surgiu a partir da constatação de uma injustiça: os desenvolvedores de software não-Livre exercem poder injusto sobre os usuários do software. Esse poder injusto só é possível quando a liberdade do usuário não é respeitada. Você sofre esse poder injusto quando, por exemplo, o programa espiona você, ou restringe o que você pode fazer com os seus arquivos. Ou quando o programa impõe limites artificiais sobre em qual hardware você pode executar o programa, ou sobre a quantidade máxima de documentos ou de janelas que você pode abrir ao mesmo tempo. Você também sofre esse poder injusto quando, por exemplo, a sociedade é proibida de auditar softwares impostos pelo Governo, para certificar-se de que eles funcionam como deveriam, ou quando você é proibido de modificar o programa para ele funcionar melhor para você e facilitar a sua vida. Infelizmente, são inúmeros os exemplos de como esse poder injusto se manifesta. A missão do Movimento Software Livre é combater essa injustiça e defender a liberdade dos usuários, por acreditar que os usuários merecem a liberdade, e por considerar injusto que os usuários sofram restrições sobre a sua liberdade. + Em que consiste a liberdade dos usuários? + A liberdade dos usuários consiste em os próprios usuários controlarem e compartilharem o software que usam. As liberdades defendidas pelo Movimento Software Livre não são obrigações, são direitos. Você não é obrigado a exercê-las, mas quando quiser exercê-las, você estará livre para isso. Não dizemos que exercer as liberdades seja fácil mas, pelo menos, não iremos proibir você de exercê-las. ++ Controle ++ Com software, ou o usuário controla o software, ou o software controla o usuário. Aqui, quando falamos em o usuário controlar o software, não estamos falando em o usuário controlar a operação do programa em execução, estamos falando em o usuário controlar quais são as funcionalidades do programa e de que forma elas são implementadas. Para controlar o software, é necessário poder modificar o software. Se você não souber ou não quiser fazer as modificações você mesmo, você poderá convencer alguém a fazer as modificações para você e, ainda assim, controlar o que o programa faz. Mas se o programa não funciona como você quer e você é proibido de modificar o programa, então você fica limitado a fazer somente o que o programa permitir. ++ Compartilhamento ++ Com software, ou o usuário compartilha o software, fazendo parte de uma comunidade forte e autossuficiente, ou o usuário é proibido de compartilhar o software, ficando dividido dos demais usuários, sem poder participar de uma comunidade, e acaba enfraquecido e sofrendo mais poder injusto. ++ As quatro liberdades essenciais ++ Para que os usuários controlem e compartilhem o software, é necessário que sejam respeitadas quatro liberdades essenciais dos usuários. São estas as quatro liberdades essenciais que devem ser respeitadas para o software ser qualificado como Livre: - Liberdade 0: executar o programa - Liberdade 1: modificar o programa - Liberdade 2: copiar o programa - Liberdade 3: distribuir cópias da sua versão modificada do programa +++ Liberdade 0: executar o programa +++ A Liberdade 0 é a liberdade de executar o programa, como você quiser, para qualquer propósito. A liberdade de executar o programa significa que qualquer pessoa ou organização tem liberdade de executar o programa para qualquer tarefa ou propósito que queira, sem ter que comunicar ou pedir autorização ao desenvolvedor do programa ou a qualquer entidade. É o propósito do usuário que importa, e não o propósito do desenvolvedor do programa. Por exemplo, você não será proibido de executar o programa para fins comerciais, nem de executar o programa em organizações militares. Nem lhe será exigido que você seja um estudante ou um usuário doméstico para usar o programa, ou qualquer outra restrição nesse sentido. +++ Liberdade 1: modificar o programa +++ A Liberdade 1 é a liberdade de estudar como o programa funciona, e de modificar o programa para que ele funcione como você quiser. Ter acesso ao código fonte do programa é um pré-requisito para essa liberdade. A liberdade de modificar o programa é importante para que você possa controlar individualmente o que o programa faz e possa adaptá-lo para que ele atenda as suas necessidades. Por exemplo, se você encontrar um bug no programa, você poderá consertá-lo. Se o programa não executar uma tarefa exatamente como você precisa, você poderá melhorá-lo. Será mais difícil impor sobre você um programa com comportamento malicioso, como espionar as suas informações, ou que contenha limitações artificiais, como impedir a impressão de arquivos, se você puder remover essas restrições do programa. +++ Liberdade 2: copiar o programa +++ A Liberdade 2 é a liberdade de fazer cópias idênticas do programa e distribuí-las a quem você quiser, de modo a ajudar o seu próximo e a ser ajudado por ele. Por exemplo, você não será proibido de copiar para os seus amigos os programas que você usa. Ao contrário, copiar os programas é um comportamento desejável. +++ Liberdade 3: distribuir cópias da sua versão modificada do programa +++ A Liberdade 3 é a liberdade de você distribuir a sua versão modificada do programa a quem você quiser, de modo a beneficiar a sua comunidade com as modificações feitas por você, e vice-versa, ou seja, você receber as modificações que a comunidade distribuir. Ter acesso ao código fonte do programa é um pré-requisito para essa liberdade. Mesmo para um excelente programador de computadores é impossível conseguir fazer sozinho todas as modificações necessárias nos diversos programas que usa, porque isso seria um trabalho imenso devido à enorme quantidade de programas livres existentes. Por isso, é importante ter a liberdade de colaborar com os demais, formando uma comunidade. Por exemplo, as inúmeras melhorias que são feitas por diversas pessoas nos diversos programas livres existentes dão origem a novas versões desses programas. Esses programas são então distribuídos com essas melhorias, para o benefício de todos os usuários desses programas. + Por que se importar com isso? + Infelizmente, existem no mundo outras e mais graves injustiças do que a injustiça causada pelo software não-Livre. Então, por que se importar com isso? - O primeiro motivo é que, mesmo havendo injustiças mais graves do que essa, ainda assim essa é uma injustiça e, como tal, deve ser combatida. - O segundo motivo é que essa é uma injustiça que acontece em um campo do conhecimento humano no qual nós, que temos conhecimento técnico na área, temos condições de agir para transformar a situação e eliminar essa injustiça, escrevendo Software Livre para substituir todo o software não-Livre ainda existente. - O terceiro motivo é que a quantidade de atividades humanas que são realizadas com uso de software está aumentando com o passar do tempo e com o avanço da tecnologia, aumentando também o alcance da injustiça sobre os usuários quando as tarefas são realizadas usando software não-Livre. - O quarto motivo é que para termos uma sociedade livre, temos que lutar por liberdade em todas as áreas. As diversas liberdades dependem umas das outras e se fortalecem umas com as outras, e nossa sociedade é tão livre quanto a mais fraca das liberdades. [software_livre.png] + Para saber mais + Para saber mais a respeito da filosofia do Movimento Software Livre, acesse http://www.gnu.org/philosophy/philosophy.html. + Licença + Copyright (C) 2015 Adriano Rafael Gomes . Esta obra está licenciada sob uma [Licença Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/deed.pt_BR] (CC BY-SA 4.0).